domingo, 10 de abril de 2011

Lenda da Pedra do Letreiro – A Gruta de São Cosme



Há 500 mil anos o mar saía daqui e deixava sua marca, criando um grande vale  formado por paredões de pedra dos dois lados, esse vale é conhecido hoje como riacho de São Cosme. Cosme foi o valente cacique dos Tremembés, considerado o mais poderoso dessa região, sua tribo era formada por fortes guerreiros que provavelmente foram os primeiros seres viventes de nossa terra.  Naquela época a maior concentração de indígenas no nosso estado ficava em São Raimundo Nonato, haviam também outras tribos vivendo em Sete Cidades, assim como, mais próximos daqui, viviam na Serra do Morcego ou Arco do Covão a tribo dos Alongás.
       A Aldeia do Cacique Cosme era protegida pela densa mata, que sempre verde e exuberante, era habitat de rica fauna, peba, tatu, juriti e jacu eram facilmente encontrados, quem se aproximava da tribo era descoberto pelo alarme do Quenquém, o assobio do macaco e os gritos da guariba.
     No vale do São Cosme nasceu, escorrendo de cima de uma ribanceira na chapada dos Fernandes, um forte olho d’água que passava em frente a aldeia do valente guerreiro, aquele riacho era formado por águas doce e cristalinas que foram essenciais para a sobrevivência dos nativos, em seu curso surgiram vários tanques apropriados para o banho, em um deles, especialmente refrescante, era o local preferido das três jovens e encantadoras filhas do Cacique Cosme.
     Certa vez as lindas jovens foram surpreendidas por três sedutores guerreiros Alongás, filhos do Cacique Senaqueribe, moradores da Serra do Morcego, eram inimigos dos Tremembés. Os guerreiros Alongás vendo aqueles lindos corpos nus devoraram de uma só vez a virgindade daquelas moças, porém antes que pudessem fugir foram capturados pela tribo rival, foram presos e mal tratados, o velho Cosme queria sacrificá-los pela desonra de suas filhas, felizmente a sorte sorriu para um deles que conseguiu fugir levando consigo o tesouro da tribo, chegando em sua terra avisou a Senaqueribe , e assim estava deflagrada a guerra entre as duas nações.
     Percebendo a fuga de um dos guerreiros, Cosme ficou em alerta, foi decretado que a tribo toda se organizasse para  uma possível invasão, a redondeza foi vigiada e em toda a extensão do grande vale, até a saída que vai para a Lagoa Grande do Buriti, foi determinado que em cima dos morros, de um lado e do outro, ficassem guerreiros armados esperando a entrada de tropas inimigas que desejassem libertar os prisioneiros que se encontravam reféns em poder dos Tremembés. Naquele momento, o Cacique Cosme esturrava furioso de saber que suas filhas foram violentadas pelos inimigos, e que mesmo estando presos não confessavam a prática de tal ato, nem diziam onde tinha ido parar o tesouro.
     Cosme desiludido resolveu registrar no paredão de pedras, que ficava no centro da aldeia, a sentença que seria aplicada a seus inimigos, daí o nome “Pedra do Letreiro”. O cacique pediu ao pagé que fizesse um feitiço, uma maldição para que seu tesouro se encantasse onde ele estivesse, e que jamais fosse encontrado, o pagé seguiu as ordens do cacique, porém estabeleceu que se em algum dia alguém conseguisse decifrar o que foi escrito no paredão aquele tesouro reapareceria.
     Senaqueribe pediu para que seus guerreiros surpreendessem os rivais, e quando os Tremembés não mais esperavam foram atacados, os Alongás entraram de vale a dentro com sua  forte caravana, armados até os dentes com tacapes, flechas e lanças, e assim naquela noite de lua cheia, depois de uma forte resistência conseguiram invadir a tribo, matar seu líder e quase todos de sua nação, a violência foi tamanha chegando ao ponto do riacho ficar escorrendo por muitos dias tinta de sangue.
      Depois do confronto as jovens índias foram levadas por seus algozes para viver com eles no Arco do Covão, o coração das jovens se partiu de dor, elas não queriam abandonar sua aldeia, e despedindo-se do lugar e do corpo do velho pai choraram sem parar, e até pouco tempo na gruta formada pela grande pedra, pingava gotas d’água como se fossem as lágrimas de saudade de seus legítimos donos. E daquele riquíssimo tesouro, que foi saqueado e nunca encontrado, hoje só restam as estórias fantasiosas que são passadas de geração em geração.
Texto:  Neném Calixto e Gildazio(membros do IHAL)

2 comentários: