segunda-feira, 20 de fevereiro de 2012

Carlos Said analisa o livro “Bury-Açu, o Espírito do Brejo - Contos, Casos e Lendas”


Por: Carlos Said *

O dedicado escritor José Luiz de Carvalho (Buriti dos Lopes, Piauí, 1956), pesquisador devotado, ao escrever “Bury-Açu, o Espírito do Brejo (Contos, Casos e Lendas)”, deixa indelével a sua fecunda inteligência.

Ao buscar a qualificação no respeitante a letras, no “Bury” (do tupi “bu´ri”), analisou o significado da palmeira que vive de preferência no litoral (o Piauí, possui uma faixa litorânea de, aproximadamente, 66 quilômetros). “Açu” (do tupi “wa´su”), significa: grande, vasto, considerável. Assim, os contos, casos e lendas contidos no seu formidável livro demonstram que, em qualquer lugar baixo onde há nascentes, olhos d´água, cacimbas, os espíritos vagueiam à procura de advertências ou condenações. Então, e através da imaginação e inteligência, José Luiz de Carvalho confeccionou os “Contos, Casos e Lendas”. Extraindo – por fim - os mitos que se condensaram em lutas, sacrifícios, anseios, desejos, alegrias. Condição humana ou sobrenatural em exemplos verificados nas cidades. Reverberando o meio ambiente, inclusive o profundo do viver na área rural.

O livro é mais do que uma referência para pesquisas sobre a língua tupi e costumes dos primitivos habitantes do Piauí, além do linguajar simples dos piauienses. Evidentemente, peça genuína da literatura sertanista. Sem faltar os instantes indianistas. Como se vê no Capítulo V: “O Morro Gemedor da Ilha Grande de Santa Isabel. Ressalto do amor de “Intã” e “Ará” na convidativa Praia do Sal, cenário único no Delta das Américas (existe a felicidade nas relembranças dos encantadores versos esmiuçando o valor da Pedra do Sal: “Águas mansas, águas bravias./ Oh!

Pedra do Sal de noites frias.../ Refúgio dos amantes...”).

As recordações do final do ano 1801, ainda indestrutíveis, mostram a fuga dos Tremembés, índios que habitaram a parte mais alta da fértil região, assanhados que foram pelo rugido da tempestade que se abateu

sobre o belo local. O homem branco, “Ará” (do tupi “a´rá”, significação de arara (do tupi “a´rara”), ave de grande porte, cauda longa e bico muito forte. Habita o cimo das maiores árvores, onde comem e dormem) e,

“Intã”(variação de “Itá” (do tupi “i´tã”, significação de utensílio polido em forma de concha servindo de ornato nas urnas funerárias dos povos indígenas que habitaram o litoral piauiense. Geralmente encontradas nas praias brasileiras), abraçados e ungidos pelo fervoroso amor que lhes serviram desde o primeiro instante, foram arrastados e metidos debaixo da terra por ondas gigantes de água e lama vindas do oceano Atlântico.

Uma lenda enternecedora, rediviva a todo instante (se assim desejarmos). Uma tradição popular oriunda da historicidade piauiense no concernente aos povos indígenas que viveram no Piauí (exterminados foram pela fúria dos colonizadores. Nos episódios do devassamento da terra).0 Consequentemente, “Ará” e “Intã”, é imaginação poética do amor puro envolvendo duas pessoas que se amaram com lealdade. E foram tragadas pelo destino trágico anunciado.

Para o rabiscador em questão, o escritor José Luiz de Carvalho com jaez sertanista (e ressalto indianista), autêntico personagem do panteão literário piauiense, se encontra merecedor de encômios porque participa duma linguagem limpa e compreensível. E como pertencemos à classe professoral manejando fatos e episódios da nossa admirável literatura, aconselhamos que se faça justiça ao proveitoso desempenho do autor do livro “Bury-Açu, o Espírito do Brejo”.



* Professor e jornalista
Fonte: meionorte.com

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